Enciclopédia Rock – Volume II – 18 – Elvis Presley

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Walter Possibom


Elvis Aaron Presley (Tupelo, 8 de janeiro de 1935 – Memphis, 16 de agosto de 1977), também conhecido mononimamente como Elvis, foi um cantor, músico e ator estadunidense. Tido como um dos mais significantes ícones culturais populares do século XX, ele é frequentemente chamado de o Rei do Rock, ou simplesmente “O Rei”. Elvis fora ainda apelidado como Elvis, The Pelvis.

Uma rara foto de Elvis quando morava em Tupelo

Presley nasceu em Tupelo, Mississippi, nos Estados Unidos, e mudou-se com sua família para o Memphis, no Tennessee, quando tinha 13 anos de idade. Sua carreira musical começou em 1954, gravando na Sun Records com o produtor Sam Phillips, que queria levar o som da música afro- americana para um público mais amplo. Presley, no violão de ritmo, e acompanhado pelo guitarrista Scotty Moore e pelo baixista Bill Black, foi um pioneiro do rockabilly, uma fusão de música country e rhythm and blues. Em 1955, o baterista D. J. Fontana juntou-se ao time e completou o quarteto clássico de Presley e a gravadora RCA Victor adquiriu seu contrato em um acordo arranjado pelo Coronel Tom Parker, que viria a empresariá-lo por mais de duas décadas. O primeiro single de Presley com a RCA, “Heartbreak Hotel”, foi lançado em janeiro de 1956 e se tornou um sucesso número um nos Estados Unidos.

Em novembro de 1956, Presley fez sua estréia no cinema em Love Me Tender. Convocado para o serviço militar em 1958, Presley relançou sua carreira musical dois anos depois, com alguns de seus trabalhos mais bem-sucedidos comercialmente. No entanto, ele realizou poucos concertos, e orientado por Parker, dedicou grande parte da década de 1960 fazendo filmes e trilhas sonoras, a maioria dos quais foram zombados pela crítica. Em 1968, após uma pausa de sete anos sem se apresentar ao vivo, ele retornou ao palco no aclamado especial televisivo Elvis, o qual levou a uma estendida residência em Las Vegas, e uma série de turnês altamente lucrativas. Em 1973, Presley tornou-se o primeiro artista solo a ter um show transmitido ao redor do mundo, Aloha from Hawaii. Anos de abuso de drogas prescritas comprometeram gravemente sua saúde, e ele morreu repentinamente em 1977 em sua propriedade, Graceland, aos 42 anos de idade.

Com uma série de aparições bem-sucedidas na televisão, e sucessos no topo das paradas, ele se tornou a principal figura do novo som popular, o rock and roll. Suas interpretações energéticas das canções e seu estilo de performance sexualmente provocante, combinados com uma mistura singularmente potente de influências além da barreira da cor durante uma era transformadora nas relações raciais, fizeram-no enormemente popular—e controverso.

Presley é o artista solo mais vendido na história da música. Ele obteve sucesso comercial em muitos gêneros, incluindo pop, country, blues e gospel. Presley ganhou três Grammys competitivos, recebeu o Grammy Lifetime Achievement Award aos 36 anos de idade, e foi incluído em vários halls of fame.

18.1. PRIMEIROS ANOS

Elvis Aaron Presley nasceu na cidade de East Tupelo (agregada mais tarde à cidade de Tupelo), no estado do estadunidense de Mississippi, em 8 de janeiro de 1935. Sobrevivente ao parto de gêmeos univitelinos, onde o irmão Jessie Garon nascera morto. Nos primeiros anos de vida, cresceu em meio aos destroços de um furacão que devastou a cidade em abril de 1936. O estado do Mississipi era nessa época um centro do racismo americano, mas a tragédia propiciou uma união entre brancos e negros, que ignoraram, por algum tempo, o conflito racial, em prol da reconstrução da cidade.

Elvis Foi educado independentemente de aspectos de qualquer ordem, quer étnicos, sexuais e sócio-económico-financeiros. Em parte da primeira infância, junto com a mãe Gladys, esteve privado da figura do pai, preso em 1937 devido a estelionato. Somando-se a isso, a família foi despejada de uma moradia, indo morar com os pais de Vernon (libertado em 1941). Em 1945, Elvis participou de um concurso de novos talentos na “Feira Mississippi-Alabama”, onde conquistou o segundo lugar com a canção Old Shep, recebendo um prêmio em dinheiro e ingressos para todas as diversões. No mesmo ano, o pai presenteou-o com um violão, que virou sua companhia constante, inclusive na escola.

Em setembro de 1948, a família Presley mudou para Memphis, onde morou por bastante tempo em condições precárias. Entre 1948 e 1954, Elvis trabalhou em várias atividades: de lanterninha de cinema a motorista de caminhão. Em 1953, concluiu os estudos. Mas nas horas vagas, cantava e tocava seu violão e, eventualmente, arriscava alguns acordes ao piano. As suas influências musicais foram a pop da época, particularmente Dean Martin; a country; a música gospel, ouvida na primeira igreja Assembléia de Deus da sua cidade, apreciava o cantor J. D. Sumner; além de seu apreço pela música erudita, particularmente a ópera. Um de seus maiores ídolos era o tenor Mario Lanza.

18.2. DÉCADA DE 1950

18.2.1. Início da Carreira Profissional

Em julho de 1953 e em, janeiro e junho de 1954, Elvis gravou algumas canções de forma experimental, no “Memphis Recording Service” (filial da Sun Records). Mas julho de 1954, efetivamente Elvis iniciou carreira profissional. Sendo também considerado o marco inicial do rock and roll. Elvis ensaiava algumas canções, até que, de forma improvisada, começou a cantar as músicas “That’s All Right” (Arthur Crudup), provocando em Sam Phillips um grande entusiasmo. Surgia, então, o rockabilly, uma das primeiras formas do Rock and roll. “Take” realizado, nova canção, no gênero, foi concebida; dessa vez, “Blue Moon of Kentucky”, um tema bluegrass que foi gravado com a mesma levada de “That’s All Right”. Ambas comporiam o último sucesso do seu primeiro disco, um “compacto simples”. Participaram das sessões, além de Elvis e Sam, o guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black.

Em julho do mesmo ano, as duas canções são executadas pela primeira vez numa rádio de Memphis, resultando em sucesso. Devido essa repercussão, Elvis é convidado a dar a primeira entrevista como cantor profissional. A canção “Blue Moon Of Kentucky” chega ao primeiro lugar na parada country da Billboard e, “That’s All Right” atinge o quarto lugar da mesma parada. Em seguida, no mesmo mês realiza o primeiro espetáculo na cidade de Memphis, em outubro faz o primeiro espetáculo fora de Memphis, na capital do Country, a cidade de Nashville.

Em outubro, faz a primeira apresentação fora do estado do Tennessee, na cidade de Atlanta (Geórgia). Em seguida, no mesmo mês Elvis tem provavelmente o primeiro grande momento de sua carreira, quando realiza na cidade de Shreveport (Louisiana), um espetáculo fora transmitido ao vivo via rádio local “Louisiana Hayride”. O ano de 1955 pode ser avaliado como a gênese do sucesso nacional de Elvis.

Além das inúmeras polêmicas em torno das suas apresentações, somam-se a isso as suas performances em programas de rádio e algumas apresentações em programas locais de televisão, onde ele se destaca. As suas canções começam a fazer sucesso nacionalmente, “Mystery Train” chega ao 11.º lugar na parada nacional country da Billboard, “Baby, Let’s Play House” atinge o 5.º posto na mesma parada, até culminar com a primeira canção “número um” nos charts nacionais, canção denominada “I Forgot To Remember To Forget”. Neste mesmo ano ele conheceria o seu empresário Tom Parker, que agenciaria sua carreira ao longo de sua vida. Apesar dos múltiplos rumores, dos quais o próprio Elvis fora sabedor, apenas nos anos 80 revelou-se, publicamente, seu verdadeiro nome e nacionalidade. Parker recebera título-honorário, seu verdadeiro nome era Andreas Cornelius van Kuijk, oriundo da Holanda e nascido em 1909. A biografia de Parker é enormemente polêmica, controvertida e ambivalente, assim como sua função empresarial. Em novembro de 1955, após expressiva repercussão, seu contrato foi vendido para RCA Victor.

18.2.2. Fama

Em 1956, Elvis tornou-se uma sensação internacional. Com um som e estilo que, uníssonos, sintetizavam suas diversas influências, ameaçavam a sociedade conservadora e repressiva da época e desafiavam os preconceitos múltiplos daqueles idos, Elvis fundou uma nova era e estética em música e cultura populares, consideradas, hoje, “cults” e primordiais, mundialmente.

Suas canções e álbuns transformam-se em enormes sucessos e alavancaram vendas recordes em todo o mundo. Elvis tornou-se o primeiro “mega star” da música popular, inclusive em termos de marketing. Muitos postulam que essa revolução chamada rock, da qual Elvis foi emblemático, teria sido a última grande revolução cultural do século XX; já que, as bandas, cantores e compositores que surgiram nas décadas seguintes – e fizeram muito sucesso, foram influenciados, de alguma maneira, direta ou indiretamente por Elvis, o que pode ser considerado verdade.

Muitos de seus admiradores postulam que somente o seu talento e perseverança o mantiveram “vivo” até os dias atuais e que a descrição de que ele só fez sucesso por possuir uma aparência de certa forma agradável, não é mais considerada como uma versão admissível pelos biógrafos sérios e historiadores daquela época e da música, sendo consideradas nos dias atuais como risíveis e recheadas de clichê. Mas Elvis superou as adversidades, ainda que a pecha da vulgaridade tenha permanecido no seio dos segmentos mais ostensivos às camadas mais populares.

Tornou-se o “O Rei da Guitarra Elétrica”! – lembram os estudiosos de sua obra, com propriedade, o gênero que, curiosamente, menos interpretou quantitativamente; título outorgado primeiramente pela revista Variety.

Até os dias atuais, Elvis é lembrado como um dos maiores nomes da música de todos os tempos, ainda que sua importância maior talvez ainda esteja por ser estudada e compreendida, por epistemólogos da Sociologia e Psicanálise, principalmente. Suas apresentações televisivas quebraram todos os recordes de audiência, além das inevitáveis polêmicas geradas por suas performances explosivas. Podem ser citadas como exemplos, as interpretações de “Hound Dog” nos programas de Ed Sullivan e Milton Berle. Um fato bastante propalado e que evidencia esse momento são as famosas censuras em torno de suas apresentações televisivas, fato comprovado pelas apresentações onde ele foi filmado da cintura para cima, uma em 1956 no programa “The Steve Allen Show” e outra em 1957 no programa “The Ed Sullivan Show”. Em 1 de abril de 1956 Elvis grava uma performance em cores da canção “Blue Suede Shoes”, cena esta que fazia parte de um teste feito pela 20th Century Fox para o filme “Love Me Tender”, sendo que a referida cena não foi transmitida na época, tendo permanecido nos arquivos da “FOX” até finais da década de 1980, essa talvez tenha sido sua primeira performance em cores, afinal, naquela época a transmissão em cores estava em seu início.

Cartaz do Filme Love Me Tender

Os filmes “Love Me Tender”, “Loving You”, “Jailhouse Rock” e “King Creole” foram um grande sucesso de público e, principalmente, os dois últimos, também tiveram seus méritos reconhecidos pela crítica especializada. No mês de outubro de 1956, Elvis realiza um espetáculo na cidade de Dallas no estádio “Cotton Bowl” para um público estimado de 27 mil pessoas, algo incomum para um artista solo naqueles idos.

Em janeiro de 1957, em sua última apresentação no programa de Ed Sullivan, Elvis provocou uma enorme celeuma, quando, contra a vontade do apresentador, cantou a música gospel preferida de sua mãe, “Peace In The Valley”. A repercussão foi imediata e polêmica, levando-o à gravação de seu primeiro disco gospel, um EP (compacto duplo com quatro canções).

Elvis Presley no exército

No final de 1957, um show realizado no Pan Pacific de Los Angeles foi considerado um dos maiores momentos da carreira de Elvis, por sua sensual e arrebatadora apresentação, considerada escandalosamente provocativa pelos puritanos da época. No mesmo ano de 1957, Elvis se apresentou no Canadá, os seus únicos shows fora dos Estados Unidos, em um total de cinco espetáculos que abalaram o país vizinho. Neste ano, Elvis adquiriu a mansão Graceland, sua eterna morada. Em 1959 conhece Priscilla Beaulieu (que tinha 14 anos na época), que viria a ser sua mulher alguns anos mais tarde.

Em 1958, Elvis foi para o exército, uma convocação real, facilmente descartável, porém aproveitada comercialmente para expandir a faixa de público. Transferido, permaneceu na Alemanha no período de outubro de 1958 até março de 1960. Em agosto de 1958, a morte de sua mãe Gladys Presley transformar-se-ia no marco mais dramático de sua vida prejudicando a vida pessoal.

Elvis Presley em sua Graceland

18.3. DÉCADA DE 1960

18.3.1. O Retorno do Exército

Em março de 1960, Elvis retornou da Alemanha e surpreendeu o mundo ao aceitar o convite para participar do programa de Frank Sinatra chamado de “The Frank Sinatra Show” (The Timex Special), realizando uma de suas melhores performances televisivas. Selou, a partir de então, uma relação de cordialidade com seu anfitrião e com Sammy Davis, Jr – com quem, inclusive, ensaiou os números de orquestra -, que perduraria ao longo de sua vida. O programa bateu todos os recordes de audiência do ano, inserindo Elvis em uma nova faixa de público e apresentado pela “Rat Pack”, naquele momento, contava com grande prestígio, razão pela qual o astuto empresário Tom Parker o garimpara. No cinema, Elvis Presley contou com a sensível direção do veterano Don Siegel no filme Flaming Star, um novo reconhecimento da crítica, virando um de seus mais bem-sucedidos filmes em qualidade, ainda que tenha, curiosamente, desapontado seu público, à época, exigente de películas apenas histriônicas. No mesmo ano de 1960, Elvis novamente surpreende e lança um álbum gospel, contrariando o empresário e os proprietários da gravadora, que não viam com bons olhos um trabalho nesse gênero musical, entretanto, seguindo seu instinto e de certa forma querendo homenagear sua mãe, ele participa de toda a parte de produção e no final do ano o álbum é lançado tornando-se um grande sucesso de público e crítica.

Em 1961, Elvis realizou shows em Memphis e no Havaí com grande sucesso de crítica e público. O show havaiano, beneficente, concordam seus seguidores mais iniciados e alguns críticos, tornou-se emblemático de apresentações clássicas, no gênero, no show-business. No mesmo ano, Elvis foi homenageado com o “Dia Elvis Presley”, tanto na cidade de Memphis como no estado do Tennessee. Elvis provava que sua ida ao Exército e o fim da década de 50 não abalaria seu sucesso e que alguns de seus álbuns na década de 60 viriam a tornar-se clássicos, sendo avaliados como alguns dos melhores de sua carreira.

18.3.2. Hollywood

No período de 1960 a 1965, os seus filmes são um dos grandes sucessos de público no mundo inteiro. Alguns críticos mais generosos, ainda que implacáveis acerca da qualidade duvidosa das películas, clamavam por melhores oportunidades e personagens para Elvis Presley que, entretanto, envolvido em uma ciranda mercadológica, não se dispunha a aprender o ofício e frequentar Escolas de Artes Cênicas confiáveis, para aprimorar-se no ofício – a exemplo de Marlon Brando, e muitos outros. Ainda assim, sua versatilidade esteve presente e vários gêneros foram visitados, sendo elogiado por algumas de suas performances, mesmo os roteiros não sendo avaliados como satisfatórios, ou seja, ele fazia a sua parte com méritos, mesmo não possuindo material de qualidade – entre os gêneros apresentados em seus filmes podem ser destacados, “musical”, “faroeste”, “drama” e “comédia” – os maiores e melhores destaques nesse período foram, Flaming Star (1960), Wild In The Country (1961), Follow That Dream (1962), Kid Galahad (1962), Fun in Acapulco (1963), Viva Las Vegas (1964), Roustabout (1964).

A partir de 1965, seus filmes e trilhas-sonoras perderam qualidade drasticamente, configurando período de grande alienação e tédio pessoal para o artista. Durante as filmagens de “Viva Las Vegas”, em 1963, os protagonistas, Elvis e Ann-Margret, sueca de beleza estonteante, apaixonaram-se intensamente; o que legou bons resultados ao produto final. E muita especulação na mídia. O filme “Viva Las Vegas” é considerado um de seus melhores momentos no cinema, sendo muito elogiado até os dias atuais.

Calçada da Fama de Hollywood

18.3.3. Parceria com os Beatles

No dia 27 de agosto de 1965, Elvis e a banda inglesa The Beatles encontraram-se no âmbito doméstico, sem evidências, até agora, de qualquer produto áudio/visual relevante. A única imagem alusiva ao encontro de Elvis e Beatles é uma foto em que John Lennon aparece saindo da casa de Elvis. No documentário The Beatles Anthology, de 1996, os ex-beatles Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr confirmaram jamais terem tocado com Elvis, e que somente John Lennon o fizera. No mesmo documentário, Ringo, para os biógrafos confiáveis, a grande estrela da noite em simpatia e camaradagem geral, comentou ter jogado futebol com Elvis.

18.3.4. Virada na Carreira

Apesar da fase de pouca qualidade em seus filmes e respectivas trilhas-sonoras, o ano de 1967 será lembrado pelo lançamento do disco que seria considerado um “divisor de águas” na carreira de Elvis, o gospel How Great Thou Art; decorrente de radical mudança em sua produção musical. O álbum surpreendeu o mundo, gradativamente, transformou-se em um grande sucesso de crítica e público; sendo, posteriormente, agraciado com um honroso Grammy, o Oscar da música. De alguma forma, o fonograma – de grande qualidade – e seus resultados, aguçou e excitou musicistas, produtores, fãs e o grande público. Bem produzido e com peças esmeradas, Elvis Presley dera indícios de sua vitalidade e criatividade, ainda em franca ascensão e plena maturidade musical. Fundou-se, portanto, um tempo de bons arranjos e melhor seleção musical.

Ocorreram profundas mudanças em seus tons, na própria tessitura vocal e, consequentemente, em seus registros. Gradativamente, a própria extensão seria privilegiada, com comprometimento da afinação. No mesmo ano, Elvis Presley finalmente casou-se com Priscilla Beaulieu, já residente em Graceland, Memphis, desde meados da década, o matrimônio foi realizado na cidade de Las Vegas. Nesse período, entre 1967 e 1968, foram lançados alguns compactos muito elogiados; realmente, enormemente criativos e interessantes – goste-se ou não de Elvis Presley, reconhecerão seus ouvintes. Tudo devido às sessões de gravação ocorridas ainda em 1966, mais precisamente em maio e junho, onde o repertório foi sendo aprimorado qualitativamente, gerando além do álbum “How Great Thou Art”, outras canções de bom nível como “Indescribably Blue”, “I’ll Remember You” e “If Every Day Was Like Christmas”. O mesmo pode ser percebido em 1967 em canções como “Suppose”, “Guitar Man”, “Big Boss Man”, “Singing Tree”, “Mine”, “You’ll Never Walk Alone”. No período de 66/67, Elvis realiza várias sessões caseiras, onde ele interpreta várias canções de vários estilos e épocas distintas, mostrando um talento intuitivo e natural, no entanto, essas gravações só caíram no conhecimento do público, em sua grande maioria, no final da década de 1990. Em 1 de fevereiro de 1968 nasce a sua primeira e única filha: Lisa Marie Presley.

Capa do disco How Great Thou Art

18.3.5. NBC TV Special

Em 28 de junho de 1968 começou a gravação de um especial que seria lançado em dezembro de 1968, especialmente para o Natal, Presley gravaria por 3 dias seguidos, quatro shows, dois sentado com a antiga banda em 28 e em 29 gravaria mais dois shows, agora sem a sua banda, sozinho no palco. Dia 30, último dia de gravações, Presley cantou algumas canções atuando. Elvis Presley apresentou-se nacionalmente para a televisão estadunidense, o Elvis NBC TV Special; em um megaprograma que, a posteriori, seria considerado o primeiro acústico da história. Em performance considerada até os dias atuais como magistral, Presley foi aclamado pelo público e crítica especializada. Coronel Tom Parker, lendário empresário do artista, vislumbrara um programa piegas, tradicional e conservador, no entanto, devido à grande empatia estabelecida entre Presley e o então jovem produtor Steve Binder, realizou-se um espetáculo contundente e ousado; inclusive com cenas interditadas pela “Censura Federal” daqueles idos.

Neste especial, que foi ao ar poucos meses depois da morte de Martin Luther King, assassinado em abril na cidade de Memphis, e por isso mesmo no auge do racismo, Elvis apareceu ao lado do grupo vocal chamado “The Blossoms”, grupo que era composto por três mulheres negras (Fanita James, Jean King, Darlene Love) no horário nobre, fato que causou uma grande polêmica. Um trabalho reconhecidamente antológico e pioneiro. Foram apresentados clássicos dos anos 50, algumas canções da década de 1960 e, ainda outras, inéditas. “Tiger Man” (lançada no disco Elvis Sings Flaming Star), “Baby, What You Want Me To Do”, “Up Above My Head”, “Nothingville”, “If I Can Dream”, “Memories” e “Saved”, estiveram no roteiro, de um programa dividido em sets; entre “jam sessions” eletrizantes e performances clássicas em cenários monumentais e arranjos grandiosos – elaborados pela competente orquestra da NBC. Elvis Presley atingira maturidade artística.

18.3.6. A volta aos espetáculos

No ano de 1969, Elvis retornou aos palcos, após 8 anos de afastamento voluntário do contato direto com o público.

O lugar escolhido foi Las Vegas, onde passou a realizar várias temporadas anuais regularmente; aclamadas pela crítica e público. Vegas, seria, em verdade, sua grande escola. Elvis não fora “crooner”, não passara anos a fio cantando na noite e saíra do anonimato para o esplendor em muito pouco tempo. Nos anos 50, suas apresentações explosivas eram, em verdade, espontâneas e intuitivas; tão fascinantes como, de certa forma, ingênuas e amadoras. Pois, a partir deste 1969,

Elvis Presley amadureceria sua performance e tornar-se-ia um cantor experiente e com domínio cênico, além de ser avaliado como fantástico pela crítica da época, além de profissional e exuberante. E excêntrico, com suas roupas ainda mais extravagantes e estilizadas. O ano de 1969 também seria marcado por sessões de gravação muito produtivas e pela escolha de um repertório e equipe musical de grande qualidade. A resposta foi imediata: “Suspicious Minds”, “In the Ghetto” e “Don’t Cry Daddy” tornam-se “big hits” em todo o mundo. Por razões contratuais, concluiu seus últimos filmes de ficção, que pouco interesse despertou na crítica e público, tampouco a um Elvis reinventado em criatividade, vigor e emoção de viver.

18.4. DÉCADA DE SETENTA

18.4.1. Na estrada

O ano de 1970 denotou um grande amadurecimento cênico e vocal de Elvis Presley, em relação ao anterior. Novas temporadas em Las Vegas ocorreram, com mudanças radicais em repertório – mais versátil e atualizado para aqueles dias – shows avaliados como eletrizantes, tanto pela crítica como pelo público, porém com roteiros mais elaborados. Muitas dessas apresentações foram gravadas e deram origem a discos como “On Stage”.

Apesar do grande sucesso, segmentos da crítica e dos estudiosos do show-business temiam que a rotina de espetáculos em Vegas, terra de pouca inventividade, pudesse tornar Elvis alienado e desmotivado, o que definitivamente não ocorreu. No mesmo ano, após seu retorno às apresentações ao vivo, Parker e Presley iniciaram uma série de grandes espetáculos históricos e considerados magistrais, mesmo na época de sua realização; e inventaram, gradativamente, uma nova concepção de shows: as “mega-tours”. Presley fez 6 shows no Astrodome, em Houston, onde quebrou todos os recordes de público, reunindo 43.000 pagantes na quarta apresentação. Um recorde impensável para aqueles idos.

Show no Astrodome em Houston

18.4.2. On Tour e Nova York

Entre 1970 e 1972, Elvis Presley realizou, com enorme êxito, várias turnês pelos Estados Unidos e, motivado pelo grande sucesso de “That’s The Way It Is”, um novo filme foi idealizado; desta feita, na tentativa de capturar a intimidade e o ritmo frenético do astro e seus fãs nestas empreitadas. Então, em 1972, concluiu-se o documentário Elvis on Tour, de concepção bastante moderna para a época, vencedor do Globo de Ouro daquele ano, em sua categoria. Também em 1972, Elvis apresentou quatro mega-espetáculos em Nova Iorque, no lendário Madison Square Garden. Novos recordes foram quebrados, de público e arrecadação.

A imprensa local foi ao delírio com ótimas críticas, como as do “New York Times”: “É lindo por que ele faz o que sabe fazer de melhor. Sexta feira a noite, no Madison Square Garden, foi assim. Ele ficou ali parado, no final, seus braços abertos, a grande capa dourada dando-lhe asas. Um campeão. Único em sua liga.”, ou então, “Como um príncipe de outro Planeta”. Insolitamente, suas únicas performances em palcos da cidade. Grandes celebridades do “show-business” estiveram presentes aos shows, amplamente noticiados em todo o mundo, inclusive no Brasil. Entre outros, Art Garfunkel, Eric Clapton, John Lennon e David Bowie – atrasado pelo grande congestionamento do trânsito -, mostraram-se encantados.

18.4.3. Divórcio

Nesta época, Elvis e Priscilla sofriam uma crise no casamento. Ela reclamava que ele estava muito distante dela por causa de seus shows, além de existirem casos de infidelidade. Tudo isso causou, em fevereiro de 1972, o fim de seu casamento, ainda de maneira informal, causando-lhe imenso impacto e progressivo transtorno pessoal. Em janeiro de 1973, ele pede o divórcio definitivo. Ironicamente, Elvis viveu um ano triunfal profissionalmente, retornando, glorificado, ao primeiro lugar das paradas mundiais de sucesso com a canção “Burning Love”.

18.4.4. Aloha from Hawaii

Apesar de estar mergulhado em problemas pessoais e de saúde, mas no auge como artista, em 14 de janeiro de 1973, Elvis Presley realizou o primeiro show via satélite do mundo, transmitido, ao vivo, para muitos países – inclusive o Brasil, pela Rede Tupi – e, posteriormente, para quase todo o planeta. O especial, Aloha from Hawaii, foi assistido por aproximadamente 1 bilhão de telespectadores em todo mundo. Nos Estados Unidos, sucesso estrondoso, foi ao ar em abril de 1973, tendo recebido o seguinte comentário no editorial do jornal The New York Times: “Elvis superou sua própria lenda!” No Brasil, foi ao ar novamente em abril do ano seguinte, 1974, com grande êxito.

O álbum duplo, inaugural do sistema “quadrafônico”, uma espécie de ancestral do “home theater”, foi imediatamente colocado no mercado, atingindo rapidamente o marco de 1 milhão de cópias vendidas.

18.4.5. A volta a Memphis

Apesar do aumento dos problemas pessoais e uma piora crescente em sua saúde com o visível aumento de peso, Elvis consegue empolgar em muitos de seus shows a partir de 1974, seus espetáculos foram se transformando, onde era priorizado a qualidade e grandiosidade das canções e sua voz que atingia cada vez mais o seu auge. O ano de 1974, artisticamente, foi deveras criativo para Elvis Presley e poderia ter se tornado a pedra fundamental para uma nova grande guinada em sua carreira e vida pessoal, o que aconteceria em parte, especialmente em alguns espetáculos em Las Vegas, onde Elvis inovou em seu repertório, bem como em seus trajes, bastante distintos em relação aos usados na época. Após 13 anos ausente dos palcos de Memphis, sua residência, neste 1974 Elvis voltou a apresentar-se na cidade, triunfalmente. O show do dia 20 de março foi gravado, garantindo-lhe novo Grammy pela performance de “How Great Thou Art”, um clássico do cancioneiro religioso. Até hoje, o feito expressivo é referenciado como de grande relevância em sua carreira, por fãs e interessados em música e sua história. Enormemente insatisfeito com os rumos dados à carreira por seu empresário Tom Parker – repertório, gravadora, Las Vegas, recusas de bons roteiros cinematográficos -, Elvis chegou a demiti-lo, mas, posteriormente, indiretamente desautorizado por familiares – desinteressados no rompimento -, voltou atrás; muito frustrado e insatisfeito.

18.4.6. Últimos anos

Ainda no ano de 1974, Elvis voltou a se apresentar no Astrodome, de Houston, estádio monumental, jamais contemplado com tal magnitude de um espetáculo de música popular. Novos recordes foram quebrados, superiores aos próprios, de 1970. Em um segundo show, 44.175 pagantes foram contabilizados; público até então inimaginável para um concerto de um único artista. Além de Houston, realizou shows históricos em Los Angeles, no mês de maio; prestigiado inclusive por artistas e bandas das novas gerações, então no auge, como um eufórico e entusiasmado Led Zeppelin. Uma única sessão de gravação foi realizada no ano seguinte, 1975, quando, no último dia do ano, Elvis Presley quebrou novo recorde de público para um artista solo até então, apresentando-se para 62 mil pessoas. Segmento de seus biógrafos afirmam que este seria seu último ano primoroso artisticamente.

Elvis realiza shows históricos em sua carreira, sendo elogiado por todos, propiciando o seguinte comentário do jornal The New York Times: “Cada vez mais Presley melhora sua voz atingindo excelentes notas vocais. Ele ainda é o rei nos palcos.”, referindo-se aos shows de “Uniondale” no condado de Nassau no estado de Nova Iorque. Muitos afirmam que os alguns dos melhores shows de Elvis em toda a carreira foram realizados em 1975. No mesmo período são lançados dois dos melhores álbuns de Elvis na década de 70, Elvis Today e Promised Land. Entretanto, pessoalmente, seus percalços se somavam gradativamente. Em 1976, ano em que realizou mais de 100 mega-espetáculos, Elvis voltou a apresentar-se no último dia do ano, na cidade de Pittsburgh; reconhecido pela crítica e público como um dos seus últimos grandes espetáculos de qualidade; para os fãs, antológico! Elvis Presley subiu aos palcos regularmente, de forma sofrível, ao longo dos seis primeiros meses de 1977, com a saúde visivelmente deteriorada. No mês de junho, teve espetáculos filmados pela rede de televisão CBS, vislumbrando um vindouro mega- especial, a ser levado ao ar em cadeia nacional oportunamente.

No dia 26 de junho de 1977 Elvis fez seu último show, em Indianápolis, chegando a cantar canções excepcionais para o período, como por exemplo “Bridge Over Troubled Water”; além de tocar “Unchained Melody” ao piano como havia feito nos shows de 19 e 21 de junho gravados pela CBS.

18.5. MORTE

Na noite de 15 de agosto de 1977 Elvis vai ao dentista por volta das 11 horas da noite, algo muito comum para ele. De madrugada ele volta a Graceland, joga um pouco de tênis e toca algumas canções ao piano, indo dormir por volta das 4 ou 5 da madrugada do dia 16 de agosto. Por volta das 10 horas Elvis teria se levantado para ler no banheiro. O que aconteceu desse ponto até por volta das duas horas da tarde é um mistério. O desenlace ocorreu, possivelmente, no final da manhã, no banheiro de sua suíte, na mansão Graceland, na cidade de Memphis, no Tennessee. Os fatores predisponentes sistêmicos, os hábitos cotidianos e as circunstâncias que culminaram com a morte de Elvis Presley são dos pontos mais polêmicos e controvertidos entre seus biógrafos e fãs. Elvis só foi encontrado morto no horário das duas horas da tarde por sua namorada na época, Ginger Alden. Logo após o seu corpo é levado ao hospital “Memorial Batista” e sua morte confirmada.

A morte de Elvis Aaron Presley no dia de 16 de agosto de 1977, causada por colapso fulminante associado a disfunção cardíaca, surpreendeu o mundo, provocando comoção. Os fãs se aglomeraram em maior número em frente a mansão.

As linhas telefônicas de Memphis estavam tão congestionadas que a companhia telefônica pediu aos residentes para não usarem o telefone a não ser em caso de emergência. As floriculturas venderam todas as flores em estoque. O velório aconteceu no dia 17. Alguns dos milhares de fãs puderam ver o caixão por aproximadamente 4 horas.


Por volta das 3 da tarde do dia 18 de agosto a cerimônia para familiares e amigos foi realizada, com canções gospel sendo cantadas pelos “Stamps” (Grupo vocal gospel) e por Kathy Westmoreland (cantora), que fizeram parte do grupo musical de Elvis na década de 1970. Após a cerimônia todos foram levados até o cemitério em limusines, e logo em seguida o corpo de Elvis é enterrado.

Dois meses após a morte do Rei do Rock, seu corpo e de sua mãe foram retirados da cripta do Cemitério de Forest Hill, em Memphis e levados para um túmulo novo, dentro dos limites da residência de Graceland.

Walter Possibom, São Paulo, SP, é escritor e guitarrista da banda Delta Crucis e Livre Pensador.
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