Desconstruíndo Che Guevara (Só Para Contrariar os Idiotas Úteis)

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Genecy Souza


Como um assassino sádico mantém o perfil de pop star, apesar das provas em contrário.

Neste mês de Novembro de 2022, o Brasil vive um período de ressaca e mau humor nunca antes visto – ao menos recentemente. O resultado das urnas divulgado na noite de 30 de outubro deixou bem claro e marcado o que todo mundo já sabia: o Brasil é um país dividido, e assim será até quando só Deus sabe. A julgar pela biografia (ou capivara) do “vencedor”, pode-se aduzir que a citada data bem que pode ser chamada de “O Dia do Grande Engano Consciente”. Enganadores e enganados deram as mãos em nome de um futuro promissor, de preferência, com muita picanha e cerveja gelada, afinal de contas, a esperança venceu o medo. Desconfio que grande parte dos eleitores daquele que disse “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia” estão representando o papel de idiotas úteis. Os próximos quatro anos serão de metáforas não cumpridas. Quem sacou, sacou; quem não sacou, terá quatro anos para entender. E, a título de consolo, esses idiotas úteis terão que se contentar com as duas primeiras sílabas da palavra picanha. Eventuais queixas deverão ser encaminhadas ao Papa.

Estou aproveitando esse período de pós-Dia D para me afastar dos noticiários, a fim de preservar minha saúde mental, duramente afetada por conta da insana corrida eleitoral, traquinagens judiciais, desinformação e omissão de grande parte daquela imprensa que se diz séria, imparcial e isenta. Já que nada posso fazer para mudar o triste quadro em que vivemos, estou me dedicando com mais afinco às atividades me fazem pensar, logo, existir. É incrível o ganho de tempo com essas ‘férias’ concedidas a meu combalido cérebro. Não se trata de fugir da realidade. Sei o que está acontecendo e o que está por vir, mas, dar um descanso para meus miolos é uma necessidade inadiável. Estou apenas reforçando minhas defesas, pois 2023 vai ser foda, bicho!

E, antes que eu esqueça, ainda tem a Copa do Mundo no Qatar! Aquele paisinho das Arábias podre de rico e cheio de pobres coitados importados para manter esse reino das Mil e Uma Noites funcionando. Mas, quem se importa com a sorte daqueles infelizes? A Globo? A CNN? A ONU? Leonardo de Caprio? Joe Biden? O papa Francisco? Só sei que é caro ir para lá. É caro estar lá. É caro voltar de lá. Talvez a Seleção Brasileira nos traga a taça, ou alguns barris de petróleo, ou alguns sacos de areia. Para mim, tanto faz. Em 2014 a Copa passou por aqui como uma praga de gafanhotos, que devastou os cofres públicos. Os idiotas úteis que acreditaram naquilo receberam um 7X1 reto a dentro. Sem vaselina e com areia. O resto, tudo mundo sabe: sobrou dinheiro para a construção de estádios, e faltou para a saúde. Anos depois, aquele vírus Made in China chegou, deitou, rolou e matou muita gente.

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/dividas-e-miseria-a-realidade-dos-trabalhadores-migrantes-no-catar_n1434306

Divagações à parte e, voltando ao pensar, logo, logo existir, recebi o livro O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis Que o Idolatram, de Humberto Fontova, o qual estava na minha mira já há algum tempo, contudo, pelas razões acima expostas, fui protelando. Desta vez – graças ao meu período de férias — ele não escapou. Li-o de uma sentada. Evidentemente, julguei o livro pela capa: idiotas úteis sempre existiram, para todas e quaisquer finalidades. Este escriba também foi um idiota útil, confesso. Por outro lado, graças a minha capacidade de rever conceitos, fui aprendendo a usar o meu desconfiômetro. Atualmente, é muito difícil eu cair em pegadinhas, sobretudo, as de natureza política.

O livro de Humberto Fontova, um cubano que fugiu de Cuba com a família, aos sete anos de idade, quando a revolução havia se transformado em um caminho sem volta e, o que é pior: em uma ditadura de perfil stalinista, patrocinada pela União Soviética, que agora dava as cartas, em substituição a anterior, estreitamente ligada aos EUA. Foi a troca de um mundo por outro, completamente diferente. Nesse contexto, três personagens eram a cara dessa nova realidade: Fidel Castro, seu irmão Raul, e Ernesto Rafael Guevara de La Serna Y Lynch, um argentino de origem nobre que, após vagar pela América Latina, acabou aderindo aos ideais de Fidel Castro e de seu projeto político. Ernesto logo teve seu nome simplificado para Che Guevara, o qual, pelo desenrolar dos fatos seguintes ao primeiro de Janeiro 1959, se transformou em uma marca, um padrão de pensamento, uma ideia e um símbolo. Por uma ironia do destino, a famosa foto tirada por Alberto Korda foi absorvida como um rentável produto de consumo pelo tão odiado capitalismo de Fidel, Raúl e Che Guevara.

El Chancho por Alberto Korda

Guardadas as devidas proporções, a tal foto rivaliza com a de Cristo na cruz. Aliás, Guevara é um Cristo da esquerda, principalmente a latino-americana. Essa imagem de um Che Guevara altivo e um tanto santificado me acompanha há tanto tempo, quem nem lembro mais quando a vi pela primeira vez. Quem sabe tenha sido na época da Abertura política, lá pelo final da década de setenta, ou quem sabe um pouco depois. Não importa.

O que importa mesmo é o fascínio que esse ícone do século 20 causa nas pessoas: como a fotografia em preto e branco de um aventureiro cabeludo, barbudo, com uma boina na cabeça, que se transformou em guerrilheiro, e depois em um dos principais líderes de uma revolução que quase levou o mundo para uma guerra nuclear, sessenta anos atrás, tem tanta força?

É o que o livro O Verdadeiro Che Guevara se propõe a desnudar. Evidentemente, zilhões de biografias foram lançadas desde a morte do guerrilheiro que se dizia médico, já que não há prova documental de que o argentino tenha se formado nessa profissão. Se o diploma existir, o “Dr. Ernesto Guevara” rivalizará com o Dr. Josef Mengele, Walter Freeman, Shiro Ishii, e tantos outros monstros formados em medicina na especialidade crimes contra a humanidade. No entanto, Che Guevara tem a seu favor a tal imagem e uma imensa legião de idiotas úteis a adorá-lo, pouco ou nada importando a sua verdadeira personalidade. Some-se a tudo isso, a formidável máquina de propaganda que transformou o guerrilheiro –apelidado de El Chancho (O Porco), decorrente de seu pouco apreço pelo banho e, por causa disso, do mal cheiro que ele exalava – em um mito adorado no mundo inteiro.

Presumo que, das tais zilhões de biografias, poucas se atrevem em colocar Ernesto Guevara, não obstante sua importância histórica, em seu devido tamanho e lugar: o de um homem vingativo, sádico, traiçoeiro, cínico, hipócrita, materialista, covarde, trapalhão, oportunista e, é claro, homofóbico e misógino. Evidentemente que, em muitas dessas biografias, digamos, amigáveis – e talvez para esconder um certo chapabranquismo, revelem, aqui e acolá, algumas contradições e ações “erráticas” do Porco Fedorento, só para posarem de imparciais. Pausa para gargalhadas.

E é em uma dessas biografias amigáveis que o autor centra suas críticas: Che Guevara: uma biografia, de John Lee Anderson, um tijolo de 900 páginas já na enésima edição. Humberto Fontova aponta diversas inconsistências relacionadas às ações e à personalidade do guerrilheiro, deixando ao leitor a tarefa de deduzir que Anderson está mais para discípulo do que biógrafo de El Chancho. E isso pega muito mal, para desagrado dos idiotas úteis.

Os tais idiotas úteis abordados no livro O Verdadeiro Che Guevara não são apenas aquela turminha identificada com os ideais de esquerda – estudantes, blogueiros, militantes, digital infuencers, certos religiosos, profissionais liberais, subcelebridades, socialites, bem como aquelas trupes de gente descolada que vive a replicar frases de efeitos e imagens da esquerda, para depois posarem de bacanas nas redes sociais –, mas gente com forte poder de influência, como os grandes artistas internacionais, como o grande guitarrista e compositor mexicano Carlos Santana que, em 2005, na cerimônia do Óscar, abriu seu casaco, exibindo uma camiseta com a famosa foto de Che Guevara, com um vistoso crucifixo por cima dela. Como o grande astro do rock pôde ser tão estúpido? Ou será que ele nunca soube que seu ídolo odiava roqueiros, pois o rock era um produto do capitalismo e tudo o que ele representava? E mais ainda: será que nunca passou pela cabeça de Carlos Santana que, se houvesse oportunidade, Guevara o mandaria passar uma temporada em um campo de trabalhos forçados, ou, em uma situação mais grave, ir ao paredão? Vale lembrar que o crucifixo, símbolo da fé cristã, não protegeu as milhares de pessoas perseguidas, exiladas, torturadas ou mortas pelo regime comunista cubano, tendo na figura de Che Guevara o quão cruel uma ditadura pode ser. Confesso que grande parte da admiração que eu tinha por Carlos Santana morreu nesse evento.

Sim. Che Guevara, assim como Fidel, Raúl e outros líderes cubanos, era um genocida.

Para encerrar, presume-se que 99% dos idiotas úteis que existem/existiram/existirão são incapazes de matar uma mosca. Por outro lado, seja por omissão, conivência ou ingenuidade, eles tornam possível toda sorte de iniquidades, as quais, em muitos casos, acabam se voltando contra eles próprios. Além do mais, neste Brasil dividido, muitos desses idiotas úteis elegeram novamente uma figura cujo partido se identifica com o Porco Fedorento.

Boa leitura.

20/11/2022

O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis Que o Idolatram
Humberto Fontova
Editora: ‎ É Realizações; 1ª Edição 2014
288 páginas
Comprar: Amazon

Genecy Souza, de Manaus, AM, é Livre Pensador.

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