Montagem: Barata

Bob Rock e Motley Crue Provam Que Gene Simmons Está Certo

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Áureo Alessandri Neto


A onda roqueira do momento é decretar a morte do Rock.

Novidade? Não. Muitos já o fizeram desde que John Lennon disse que o sonho tinha acabado. O confeiteiro da padaria aqui perto já disse o mesmo sem causar grande comoção.

Palhaçadas à parte, o sonho não tinha acabado, é claro. Basta ver a profusão de bandas e de acontecimentos ligados ao estilo que rolaram de lá pra cá, sejam bons ou não.

Recentemente Gene Simmons, o vampiresco cuspidor de fogo que de bobo não tem nada, entrou para as fileiras dos que fatidicamente anunciam a morte do estilo.

Seu argumento é bem embasado: segundo ele, quando a música se tornou gratuita, as gravadoras morreram e, portanto, deixaram de fazer bons investimentos em bandas iniciantes. Isso impediria o empurrão inicial que toda boa banda precisa em seu início de carreira para se tornar grande. Com o encolhimento das bandas viria o encolhimento da qualidade, o fim da profissionalização e assim por diante até a morte do estilo.

Faz total sentido. Embora tenham sido criticadas por décadas a fio por todos os músicos do planeta, eram as gravadoras que davam adiantamentos em dinheiro para a produção dos discos; que contratavam estúdios e produtores; que pagavam as despesas com divulgação, transporte, comida e hospedagem (entre outras menos salutares) etc. etc. etc. Elas roubavam seus contratados? Provavelmente sim, mas é inegável que sem uma gravadora por trás era impossível começar o que poderia se tornar uma megabanda como a que nosso estimado linguarudo começou nos anos 70 e que durou por cinco rentáveis décadas.

Ok, você pode não concordar com ele, afinal de contas as coisas mudam. Hoje temos a internet e com uma boa assessoria é possível ganhar algum dinheiro com os plays no Spotify, os quais pagam alguns centavos ao artista cada vez que um incauto escuta uma faixa no aplicativo. Seus shows também podem ser transmitidos por lives no YouTube e assistidos mediante taxas módicas. Há possibilidades sim. O Rock pode não estar morto, mas… Quão saudável está?

Eis que nessa semana estranhamente quente de Abril do ano de 2024 um fato ligado ao assunto me chamou a atenção: O anúncio de um novo álbum do Motley Crue depois de 16 anos. Outrora um ícone entre as hair bands dos coloridos anos 80, o Motley Crue nunca primou por ser uma banda técnica — ao contrário — suas músicas eram toscas, mas contavam com um ar de cafajestagem festeira típica da época, o que lhes conferiu notoriedade na cena e os alçou à condição de headliners ao longo de 40 anos.

Em que pese sabermos que a banda voltou após uma falsa aposentadoria — coisa que todo mundo no mundo do Rock já fez — e que essa volta os mostrou no pior de sua forma com dublagens pífias e com o uso de bases de bateria e baixo pré-gravadas em shows enormes, nada nos havia preparado para o que viria nesse ano.

Primeiro o vídeo clipe que supostamente divulga o primeiro single do novo álbum: Dogs Of War. Meu São Hendrix! O que é aquilo? O vídeo é um cruzamento constrangedor das séries televisivas de zumbis com gráficos dos games de guitar hero cujo nível de mau gosto é tão alto que deve ter despertado o interesse dos auditores do Guiness Book. Mas a parte gráfica não é o pior, por incrível que pareça. Nada na música que acompanha o vídeo soa bom ou autêntico: a bateria é evidentemente robótica e o baixo causa alguma estranheza. Tem algo esquisito naquela sonoridade moderninha, como se fosse uma tentativa de fazer a banda recobrar sua juventude.

Aí vamos dar uma garimpada por aí e um amigo me alerta para uma reportagem do site The Metal Den. A tal reportagem dá conta que o produtor da maçaroca toda, Bob Rock, teria tocado e/ou programado o baixo, já que em nenhum momento este teria sido tocado por Nikki Sixx, o baixista da banda. Este teria delegado a função ao produtor por não ser hábil o suficiente para executar as músicas.

Nota: Sixx tem pelo menos 40 anos como músico profissional. Apesar disso, a declaração não é de se espantar já que ele sequer toca ao vivo há anos, preferindo usar gravações, o que lhe dá mais liberdade para disparar um lança-chamas instalado no baixo entre outras enrolações cênicas que disfarçam sua inépcia. Se isso foi feito com o baixo, as suspeitas de que a bateria também é programada já se confirmam sozinhas.

Sobre as gravações, o novo guitarrista, John 5 (que substituiu o guitarrista original após um tremendo arranca-rabo que incluiu a delação de que eles dublavam em shows ao vivo) diz ter ficado maravilhado com as possibilidades tecnológicas disponíveis. Já eu estou maravilhado com a cara de pau da banda.

Como se o desastre não estivesse suficientemente feio, o The Metal Den revela que a voz do vocalista Vince Neil foi gravada com a ajuda de IA (sim, Inteligência Artificial. Acostume-se e durma com o barulho que isso vai fazer nas próximas décadas).Para isso, o produtor teria chamado o cantor do Creed, Scott Stapp, para fazer a base da voz e depois a “revestiu” com a voz de Neil usando um programa de IA. A razão pra isso é que sem Vince Neil o Motley não vende, mas com Vince Neil a banda não tem um vocalista. O próprio Neil já declarou mais de uma vez que sua voz morreu há tempos, cortesia dos anos de vícios e excessos. Não por acaso há vários vídeos circulando na internet que mostram sua falta de capacidade em ser um bom dublador em shows ao vivo.

Aqui cabe um parêntese: casos de dublagens no palco andam cada vez mais frequentes e cada vez mais vexatórios. Confira os vídeos que rolam por aí de Roger Waters (o imbecil gagá que se acha o ícone da politização artística), Kiss (auto-declarados bastiões da integridade moral que já planejam shows ao vivo com avatares), Joan Jett (atrapalhada com seus pedais) e W.A.S.P. (perdido, mas com cara de mau) só pra citar uns poucos. Alguns tentam alçar essa patuscada à condição de “novo normal”. Acredite se puder.
E, com o desastre já completo, vem a pá de cal jogada pelo The Metal Den: o novo disco do Motley Crue foi feito 100% com IA tendo muito pouca ou nenhuma participação humana.

Qual o sentido de uma banda lançar um álbum composto, arranjado e executado por um computador sem a participação de seus músicos? E que não venham falar em qualidade e perfeição porque ao menos o single, Dogs Of War, é genérico e previsível pacas.

Gene Simmons não tinha conseguido convencer as pessoas de que o Rock está morto, mas certamente essa empreitada do Motley Crue pode conseguir.

Se renunciar a qualquer resquício de integridade for a nova tendência a ser seguida pelas bandas então o Rock não só está morto como também está sepultado, decomposto e transformado em pó… Que já foi cheirado pelo Diabo.

Áureo Alessandri Neto é engenheiro, escritor e músico da banda La Societá, e, também um Livre Pensador.

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Daniel R.Carneiro
Daniel R.Carneiro
10/05/2024 14:10

O álbum fake do Motley é até audível. Difícil é engolir o sonífero Fark Side of The Moon “Redux” do Rogério Águas! O cara conseguiu assassinar uma das obras-primas do Pink Floyd!

Barata Cichetto
Administrador
Responder a  Daniel R.Carneiro
10/05/2024 15:51

Como dizem: gosto é que nem cu, cada um tem o seu. Tanto um quanto o outro são duas autênticas merdas. E são essas bostas que fazem com que tanto o Simmons, quanto o próprio autor do texto acabem tendo razão. O Águas consegue cagar no legado do Pink Floyd. é um cretino sociopata comunista. (Nossa, quanto pleonasmo eu agora!)

Genecy de Souza
Genecy de Souza
04/05/2024 22:35

Desde que decidi me interessar a fundo pelo rock, na segunda metade da década de oitenta, que leio e ouço coisas sobre a morte do rock: que ele morreu, está morrendo ou vai morrer daqui a um certo tempo. Bobagem. O rock é “imorrível”, pelo simples fato de que novos adeptos do gênero nascem a todo instante. Mesmo que bandas e artistas solo já não estejam entre nós, de certa forma continuarão vivos for ever.
O que ocorreu é que a tecnologia evoluiu, de maneira que é muito mais fácil e barato gravar um álbum, seja físico ou virtual, o que torna as gravadoras tradicionais quase que totalmente irrelevantes; só não desapareceram porque são donas de catálogos poderosos. Ainda assim, de certo modo, elas também se adaptaram às novas tecnologias.
O que mais me irrita nesse contexto “mortal”, é a insistência em continuar em atividade. Ou, voltar da tumba, fingindo um vigor que já não possuem mais, só para ganhar uns trocados e disfarçar velhice. Não faz sentido ver o Kiss, Mötley Crüe e tantas outras com suas caras pintadas, penteados, lamês, etc., e aquela atitude que ficou lá nos anos 70. O cheiro de naftalina é evidente.

Existe um tempo para que uma banda e certos artistas solo saiam dos palcos com dignidade, mas preferem passar pelo ridículo da repetição, mas há quem pague para ver a decadência ao vivo.

Aureo Alessandri
Aureo Alessandri
Responder a  Genecy de Souza
05/05/2024 13:39

Caro Genecy
Agora imagine gravar um disco sem a participação de pessoas.
Tudo com IA.
É o fim de tudo o que o Rock representa.

Genecy de Souza
Genecy de Souza
Responder a  Aureo Alessandri
05/05/2024 17:45

Conforme eu disse, o rock é “imorrível” pelas razães já expostas. No geral, embora existam bandas muito boas, ele perdeu a capacidade de pertubar, ousar e contestar. Sinal dos tempos, com ou sem a IA.

Barata Cichetto
Administrador
Responder a  Genecy de Souza
05/05/2024 20:08

Entendo e aceito até certo ponto, o posicionamento do Áureo e do Genecy. E essa coisa de dizer “até certo ponto” significa que acho que ambos estão certos e errados ao mesmo tempo. (Só uma provocação). Se por um lado, o exemplo do Áureo é válido, apesar de eu achar que com ou sem IA, Motley Crue sempre foi uma bela de uma bosta, o uso desse estratagema é condenável não apenas pelo aspecto roquistico da coisa, mas da falta de caráter mesmo. Agora, por outro lado, usar as falas do linguarudo e suas declarações é exagerado. Já que o Chaim sempre foi um cara que pensa no Rock como meio de ganhar dinheiro, e já fez patacuadas e patuscadas piores que essa do MC.
E quanto a morte do Rock em si concordo plenamente com Genecy: é IMORRÌVEL. Podem morrer os ídolos, podem morrer as gravadoras, os streamings, podem morrer os festivais, mas o Rock jamais. Eu sempre digo, nos últimos anos, que o Rock não morreu: voltou ao seu estado original.

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