Guca Domenico

Os fanáticos vão ao front, explodem seus corpos, entregam a vida convencidos da grandeza da luta – a causa.
Os engenheiros da batalha invariavelmente são mentes covardes dadas ao conchavo e sem escrúpulos. De escritórios organizam a estratégia que pode resultar em vitória. Ou derrota – temporária. A dinâmica dos acontecimentos possibilita novas tentativas que jamais serão aproveitadas por aqueles que se martirizaram. Estão mortos.
A luta se dá em vários campos, inclusive reais, mas grande parte delas é virtual. Os exércitos trocam canhões por calúnia, metralhadora por intriga e bombardeios por virais. A guerra da comunicação é a guerra pela hegemonia. Capturar mentes que foram adulteradas pela “educação”. Ideias sem pé no possível são excelentes para que o manipulado guerreiro tenha o sonho estimulado pela bravura desfigurada.
O que chamam romanticamente de “justiça social” é apenas o traço rancoroso do justiçamento empreendido por capitães-do-mato ideológico. A primeira vítima da “justiça social” é a liberdade que não pode existir numa sociedade onde o direito de escolha está banido. Ele é a base de uma sociedade saudável. Onde não há liberdade de pensamento a sociedade é psicótica.
Este é o ambiente propício a ditadores travestidos de libertadores do povo que encenam o teatro cínico do desmando. Usando o Estado em benefício próprio e de correligionários, se locupletam sob a alcunha de defensores dos pobres. Para anestesiar o povo usam de massiva propaganda e este sofre e ri – como se fosse normal.
Há na História exemplos vários de produção de miséria que não justifica nenhuma revolução. Elas jamais libertaram, nem libertarão.
O anseio pela ruptura da ordem e do status quo é fruto de mentalidade incapaz de conviver com regras que não criam beneficiários mendazes. O regramento da sociedade, ao contrário do que fazem crer os ideólogos meia-boca, visa proteger os mais fracos de salteadores, assassinos e oportunistas de modo geral. Leis são acordos negociados por representantes do povo – nem sempre os melhores, mas reflexo das escolhas pessoais, portanto legítimos.
Com toda imperfeição do sistema político, ele é infinitamente superior ao caos da anarquia, onde impera a lei do mais forte, ou seja, a barbárie. Nem é preciso ser muito inteligente para compreender a lei de causa-efeito, basta não ser demasiadamente inocente útil.

Guca Domenico é músico e jornalista. Trabalhou em vários veículos de comunicação impressa e foi membro da banda Língua de Trapo, junto com Laert Sarrumor.